quarta-feira, 2 de março de 2011

Com nova integrante, Vanguart abandona rótulo folk rock e letras em inglês em disco "bem chapado"

mtv.com.br
Confira entrevista que a banda deu ao Portal Mtv.



“Cansei de brincar de Bob Dylan”, diz Helio Flanders no vídeo dirigido por Pedro Acosta sobre a nova música do Vanguart, 'Depressa'. Com um disco de estreia elogiado pela crítica, um ao vivo e uma “ponta” num reality show depois, a banda matogrossense prefere agora brincar de casinha, em uma rotina que alterna ensaios com pausas para um tereré (espécie de chimarrão gelado comum no Mato Grosso)

Tanto empenho, que inclui até acordar cedo, é a preparação do grupo para a gravação do novo disco, que acontece durante o Carnaval, em Cuiabá, no mesmo estúdio onde foi concebido o álbum de 2007. “Acreditamos numa aura que envolve a cidade natal”, explica o vocalista em entrevista ao Portal MTV.

Serão apenas dez dias de gravação, que contrastam com o longo tempo que o CD vem sendo concebido. Há dois anos, o Vanguart começou a compor e passou por vários álbuns, que vinham sendo descartados e substituídos por novas músicas. “Jogamos uns dois discos prontos fora”, diz o tecladista Luiz Lazarotto, no que Helio interrompe: “que eram muito ruins, na verdade”. A demora foi importante para a banda chegar num disco que espelhasse exatamente o que eles queriam. “Foi um processo muito longo, foi ótimo, bem natural, mas é agora que estamos prontos mesmo, com certeza”, completa o tecladista. “Teve uma ruptura com o que o Vanguart era antes que mudou o disco. Botou ele num curso pré-determinado. Senão, estaríamos dando voltas ainda”.

Ajudando os cuiabanos nesse processo está Fernanda Kostchak, violinista que virou praticamente a sexta integrante do grupo. “Como são canções diferentes do que vínhamos fazendo, havia uma questão de novidade nas músicas, e nada melhor do que colocar elementos novos para isso. E como tem a questão da grana, pegamos uma pessoa só”, conta Helio Flanders. “Meia, né”, brinca a baixinha.
A banda garante que, além de trazer novos elementos, Fernanda também fortaleceu o conceito do disco, que foi sendo redefinido ao longo do tempo. O novo álbum do Vanguart terá como fio condutor as chegadas, partidas, encontros e desencontros. “Coisas da vida de quem viaja muito, de quem muda de cidade, de quem se sente diferente todo dia e acaba pagando alto por isso. E isso é a vida né, a gente envelheceu e não entendeu direito”, confidencia Helio. As relações e separações entre homem e mulher se destacam nas letras. “Sempre pensei 'ai que babaca, ficar lavando roupa suja, ficar falando umas coisas tão pessoais'. Mas ao mesmo tempo é isso aí né, as coisas que eu gosto são pessoais pra caramba. Logicamente, como é história de amor, não está muito animado o disco, tem poucos momentos”, adianta.

Para o baixista Reginaldo Lincoln, o clima do disco é natural. “O Vanguart nunca foi uma banda felizinha mesmo e nem vai ser. Musicalmente, nunca estivemos melhor, e a questão das letras, se são tristezas ou não, é só o que vivemos mesmo”.

Estariam os meninos (e menina) do Vanguart deprimidos? “Espiritualmente, estamos muito animados”, esclarece Lazarotto. E Helio tenta desfazer a ideia de que o disco é para baixo. “Nós somos chapados por natureza e ele é um disco bem chapado. E tem a Fernanda, que está aqui e toca violino, tem duas músicas com trompete, que já traz uma outra coisa. Queremos ir para outro lugar também, não queremos ficar aqui. E agora compramos um carro grande para todo mundo e vamos conseguir ir para a praia”, brinca.

Independentes mais uma vez  

O lançamento, previsto para junho ou julho deste ano, não sai pela gravadora Universal, com quem assinaram em 2008. “Rompemos amigavelmente, continuo editando as minhas músicas lá e tudo. A princípio, é um trabalho independente, tem alguns interesses, mas ainda vamos ver o que fazer, mas estamos muito seduzidos pela auto-gestão”, confessa Helio.

O interesse em retomar as próprias rédeas também se mostra na produção do disco, que será da própria banda. “Isso é bom, mas envolve uma responsabilidade maior. No nosso último trabalho, ao vivo, não tivemos essa responsabilidade. Sabe aquela época que você está de saco cheio de tudo? Você pega aquele prato mais gorduroso e fala ‘eu não uso ele mesmo’, passa uma esponjinha bem mais ou menos e deixa ele meio oleoso. Porque pô, esse prato não dá mais, tem que jogar fora! Esse foi o nosso último trabalho”, compara.

Junto com o prato, vai embora também o rótulo de folk rock, que segundo a banda já não encaixa faz tempo. “Como ainda não chegamos com um segundo trabalho de estúdio, o que o Vanguart vai ser ainda flutua muito. Mas acho que vamos ser música brasileira... Assim como não cabe MPB para a Tulipa Ruiz, não vai caber folk para o Vanguart”.

Bob Dylan desce do altar, mas isso não é sinal de que a banda mudou completamente as referências musicais. “Conseguimos reabsorver as coisas que já tínhamos ouvido antes e conseguimos tocar de uma maneira diferente. Como? Fazendo música ruim para caralho e depois podendo fazer uma melhor. E amadurecendo mesmo”, explica Reginaldo, no que Helio completa: “no primeiro disco, eu ouvi rap pra caramba. E influenciou. Neste, eu continuo ouvindo rap, mas acho que está mais latente. Você digere as sequências e não usa obviamente, usa nos pequenos detalhes, senão... Porque a gente não sabe fazer rap, a gente sabe fazer a nossa onda. E aí a gente usa tudo isso, o próprio samba mesmo, essa coisa toda... A festa gótica do seu amigo aqui na Barra Funda (aponta para Luiz Lazarotto)”.

Novamente, a participação de Fernanda foi elemento-chave para a nova identidade do grupo. “Tem muito da minha essência, porque nos identificamos muito com os mesmos estilos. Começamos de um lugar comum que era a canção do Bob Dylan, 'Hurricane', num disco em que todas as faixas têm violino. E essa ideia de que o violino deve ficar em outros setores que não este do folk, da junção do folk com rock, que acho que tem uma grande influência aqui no Vanguart. Então, saímos dessa identidade para amadurecer e fazer criações que...”, no que interrompe Reginaldo: “que vão um pouco além até de só juntar um violino com uma banda de rock”. “Vão além do folk também, além do clássico que a Fernanda toca”, completa Helio.

Na mistura entra ainda a música brasileira, influência que pesa nas letras, agora todas em português, à exceção de um refrão em espanhol. “Foi mais uma questão ideológica, sem o peso da palavra, de, enquanto compositores, vivendo num cenário tão bacana como atualmente aqui no Brasil, um monte de gente compondo coisas legais, não podemos compor em inglês agora. Tem que fazer algo em português, que é mais difícil também. Inglês é uma coisa muito natural. Português já é um caminho mais tortuoso e, logicamente, mais compensador”, relata Helio.

Como músicas em inglês foram surgindo pelo caminho, a ideia é lançar um disco só nessa língua no futuro, “para não perder essas canções”, conta Reginaldo. “Já tocamos várias em shows. E elas fazem parte do processo do disco, então não queremos deixar passar”.

Sem o rótulo de folk e cantando (quase) inteiramente em português, entraria o Vanguart nesse novo espaço da música brasileira encabeçado por Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci? "Eles não vêm do rock, a gente vem. Podemos pegar essa galera porque tem muito de música brasileira no disco, mas a gente é mais do underground, né? A gente é sério, mas a gente é tosco”, brinca Helio.

Troca de Família

Recentemente o Vanguart ocupou os Trending Topics no Twitter, após um ensaio da banda ser veiculado no reality show Troca de Família, no qual participou o baixista Reginaldo. “Foi um ano atrás, estava precisando muito pagar as contas e surgiu a oportunidade de fazer. Aceitei e me arrependi pra caramba. Mas se para alguma coisa serviu, foi para as pessoas conhecerem a banda”, desabafa Reginaldo, que por vezes é reconhecido na rua como “o cara do Troca de Família”.

David discorda: “A galera que já conhecia a banda foi assistir só para tirar uma onda. E quem não conhecia a banda... Sei lá se se ligaram muito”. Mas uma coisa é unanimidade: a polêmica na TV é levada com bom humor e, segundo Luiz, “é mais um motivo para dar umas zoadinhas”.

“Se a gente não tirasse onda dessa situação, a gente se matava, então tem que rir. Acabou que ficou tudo bem para mim”, diz Reginaldo aliviado. “É que o antagonista era muito bom”, debocha Helio, que resume a posição da banda. “Fomos expostos de maneira mínima no reality show. Todo mundo entendeu que ninguém promoveu ninguém ali, no máximo se despromoveram. Ficamos bem tranquilos quanto à exposição equivocada na mídia, mesmo porque sempre saímos mal mesmo”.

Divulgando ou não a banda, a experiência é mais uma pelas quais os integrantes passaram e que alimenta as músicas do próximo disco do Vanguart. “O Reginaldo vem escrevendo bastante e o Helio dando uma peneirada na fita eu consigo me identificar mais, porque o Reginaldo é louco demais", diz o guitarrista David Dafré.

Dirigido por Pedro Acosta, o video-documentário apresenta "Depressa", música que deve estar no próximo disco da banda, que já está sendo gravado. Entre a casa do vocalista Helio Flanders e um bar que é ponto de encontro da banda, eles falam sobre morar em SP e o processo do disco novo.



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