domingo, 13 de março de 2011

Incandescência, Reverberação e Poesia

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"Talvez se eu estivesse numa praia deserta as imagens estariam muito mais bunda-moles, mas estariam muitos mais puras, né? Não sei, acho que São Paulo funcionou como qualquer outra droga". Com palavras simples, Helio Flanders inicia o primeiro vídeo de divulgação do que seja talvez o disco mais esperado para 2011. E já não era sem demora. De 2007 pra cá (ano de lançamento do debut homônimo da banda), foram inúmeros acontecimentos: disco ao vivo por uma grande gravadora, ida ao programa do Jô, mini-turnês tocando Beatles e, recentemente, polêmicas conjugais envolvendo membros da banda. Mas, mesmo assim, houve tempo para um ou outro futebol de domingo.

E, se bem me lembro, foi em um desses domingos que ouvi Helio dizer que o Vanguart havia composto muito nesses três anos que se passaram: músicas que dariam para 2 ou 3 discos, mas que não continham nelas o sentimento que transbordava na vida da banda, no momento. E, sacrificando ao hype do momento (em votação aberta, "Vanguart", de 2007, foi eleito disco do ano pelo renomado site Scream & Yell, além de servir como trampolim para Mallu Magalhães, que começou a carreira abrindo shows), a banda preferiu adiar o momento de gravar novas canções.

E as novas canções chegaram, com o típico tom de urgência de quem tem muito para falar, mas se cala por muito tempo.

Em "O Que A Gente Podia Ser", a banda remete a nostalgia, com a inclusão de um novo instrumento que parece ser peça vital do sentimento do disco: o violino de Fernanda Kostchak. O título, que lembra Clube da Esquina, parece ser uma das forças maestras no processo de composição: pensar no que não foi.

Com essa nova safra de canções, o choque é inevitável: o Vanguart se transformou nesses 3 anos. "Engole", canção divulgada após viagem de Flanders a Argentina, é um choque de culturas. Nela, Helio deixa o violão de aço na prateleira para dar lugar ao nylon, uma sonoridade bem mais familiar ao Brasil. Outra novidade: o novo disco só terá canções em português (com a exceção refrão de "Mi Vida Eres Tu"). Não é só isso, as influências líricas também parecem ter se renovado. É possível que a canção, após finalizada em estúdio, ganhe um tom menos nu, por assim dizer. Mas, desde já, o estrago está feito.

Helio se declara fã assíduo de coisas tão diferentes como água e óleo: o rap do cotidiano tão intenso que beira o realismo fantástico, com Racionais MC's e EMICIDA; a poesia e o romance de Walt Whitman e Oscar Wilde; o tom de cabaret de Tom Waits e Cida Moreyra além, é claro, da influência do folk que marcou tanto os trabalhos anteriores da banda. E é nisso que ele espelha o futuro do Vanguart: na mistura literal de todas as formas belas, na inquietação da alma em busca de algo que traga sustentação e, principalmente, na vida em todas os seus desenrolares. Talvez o trecho que mais defina o renascer do Vanguart nesses termos esteja em um dos versos de "Engole", com tom que beira a urgência e, ao mesmo tempo, uma certa desilusão: "Eu vou tentar mais uma vez, pra ver se eu choro de felicidade".
Nós também.

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